Murmúrios…
Caminho estático, absorto, inerte
E sinto-me sufocar neste átrio deserto…
Ao longe, imóveis, vejo todos os sinais:
Os dados jogados estão no lugar certo,
E a chama apagou-se porque tu estás perto…
Uma brisa, um arrepio, um suave tocar,
Um olhar vazio… Sinto as mãos gelar…
Os passos ecoam, ressoam no pátio.
Já não é um sonho e fico acordado
Os passos ecoam e eu estou parado…
E ouço, suspenso, a melodiosa harpa,
Que impiedosamente toca, sem cessar…
Escuto, no silêncio, breves notas musicais,
Que em mim se cravam como uma farpa.
E na parede, ao fundo,
Um morto muro irreal,
Surgem as sombras de um vulto
Descendo de um pedestal…
Dirige-se a mim sorrindo,
Num velho passo apressado
E num arfar lento e pesado
Sinto-o agora ao meu lado…
E rodeiam-me aqueles braços,
Que num doloroso enlace,
Insistem em me agarrar…
E asfixia-me aquela voz
Que jamais se irá calar…
Sinto a inércia crescer
Naquele beijo demorado
Deliciosamente amargo…
E nos lábios vejo o prazer
De quem veio trazer
Murmúrios do passado…
E num vislumbre, de repente
As mãos e os pés estão soltos
E corro pelo pátio loucamente…
Tropeço em sorrisos, em olhares
E em memórias surreais…
Numa agonizante corrida,
Vasculho furiosamente
Aquele átrio sem saída…
Nas eternas horas mortas,
Quando por fim percebo
Que o pátio não tem portas,
Amaldiçoo o velho medo
Que fracassou as quimeras
Do meu desmedido sonho…
E num ataque de fúria,
Entre a vergonha e a mágoa,
Grito como um demente
E choro desesperado,
Porque a alma já não sente
Que por mais que queira ou tente,
Naquele átrio gelado,
Os meus gritos são mudos,
São murmúrios do passado…
Ângela Rodrigues 12ºE
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