LER – verbo com dois complementos e muitos significados,
no segundo aniversário do Plano Nacional de Leitura.
O acto de ler tem, por detrás de si o desejo e a vontade. Por vezes, ler
é mesmo uma fixação. Assim, nunca se impõe nem a crianças nem a adultos.
Pelo que, apenas na poesia se pode afirmar: “Ai que prazer / Não cumprir um
dever, / Ter um livro para ler / E não fazer! / Ler é maçada […]”, como refere
Fernando Pessoa.
Todavia, estamos alertados desde o século XIX, para o facto de que “É coisa
fácil ler; mas é difícil reflectir. Não podemos apropriar-nos das ideias dos
outros senão pela reflexão, que faz parte de nós mesmos.” (E. M. Campagne,
Dicionário Universal de Educação e Ensino)
É que ler não é apenas a pura operação mecânica de juntar letras, formando
palavras, que transportam sentidos. É, antes, aceder ao conhecimento das
duas realidades que nos são naturais: o mundo e o homem. Por isso a leitura
é importante e a sua ausência limita a cidadania.
Há quem diga que na Grécia não havia analfabetos entre os cidadãos
gregos, cerca de um terço dos habitantes, sendo os dois restantes
constituídos por escravos e estrangeiros. É que a leitura era uma actividade
ritual, inerente à cidadania e à vida democrática, fosse no teatro, fosse no
culto, fosse na administração popular da justiça. A leitura pública fazia parte
da maioridade cívica. Era pelo rito, incluindo a leitura, que o jovem assimilava
o pensar e o sentir, o fazer e o ver, o atacar, o defender e o decidir.
Ontem como hoje, lê-se sempre o homem, todos os homens, interior ou
exteriormente; lê-se sempre o mundo, social e político, mas também físico,
metafísico ou cósmico. Estes são os complementos sobre os quais recai a
é mesmo uma fixação. Assim, nunca se impõe nem a crianças nem a adultos.
Pelo que, apenas na poesia se pode afirmar: “Ai que prazer / Não cumprir um
dever, / Ter um livro para ler / E não fazer! / Ler é maçada […]”, como refere
Fernando Pessoa.
Todavia, estamos alertados desde o século XIX, para o facto de que “É coisa
fácil ler; mas é difícil reflectir. Não podemos apropriar-nos das ideias dos
outros senão pela reflexão, que faz parte de nós mesmos.” (E. M. Campagne,
Dicionário Universal de Educação e Ensino)
É que ler não é apenas a pura operação mecânica de juntar letras, formando
palavras, que transportam sentidos. É, antes, aceder ao conhecimento das
duas realidades que nos são naturais: o mundo e o homem. Por isso a leitura
é importante e a sua ausência limita a cidadania.
Há quem diga que na Grécia não havia analfabetos entre os cidadãos
gregos, cerca de um terço dos habitantes, sendo os dois restantes
constituídos por escravos e estrangeiros. É que a leitura era uma actividade
ritual, inerente à cidadania e à vida democrática, fosse no teatro, fosse no
culto, fosse na administração popular da justiça. A leitura pública fazia parte
da maioridade cívica. Era pelo rito, incluindo a leitura, que o jovem assimilava
o pensar e o sentir, o fazer e o ver, o atacar, o defender e o decidir.
Ontem como hoje, lê-se sempre o homem, todos os homens, interior ou
exteriormente; lê-se sempre o mundo, social e político, mas também físico,
metafísico ou cósmico. Estes são os complementos sobre os quais recai a
acção do verbo ler. Deles decorre a dupla dificuldade da leitura: a actividade
exigente solicitada ao leitor e a dureza dos objectos a ler.
A dificuldade é de tal ordem que grandes figuras a confessam e exprimem de
forma enfática, como Goethe: “A gente não sabe o tempo e o esforço que são
necessários para aprender a ler. Eu tento-o há oitenta anos, e não posso
afirmar que o tenha conseguido” (Conversações com Eckermann, in Noesis,
n.º 68, Janeiro/Março 2007: 24).
exigente solicitada ao leitor e a dureza dos objectos a ler.
A dificuldade é de tal ordem que grandes figuras a confessam e exprimem de
forma enfática, como Goethe: “A gente não sabe o tempo e o esforço que são
necessários para aprender a ler. Eu tento-o há oitenta anos, e não posso
afirmar que o tenha conseguido” (Conversações com Eckermann, in Noesis,
n.º 68, Janeiro/Março 2007: 24).
Editorial, Correio da Educação Nº328 - J. Esteves Rei
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